A publicidade tem um papel fundamental para ditar tendências, estabelecer grupos de consumo e representação. Todavia, parte da sociedade não é representada, seja porque não evidencie, grosso modo, um grupo de efetivo valor de compra, seja por questões estéticas ou mesmo ideológicas. Mas em um país plural como o Brasil, negar um grupo é ignorar a principal característica deste país: a sua diversidade de paisagens, sotaques, cores e formas. Considerando essa diversidade, e a necessidade de representá-la enquanto identidade nacional, surge um importante questionamento à área publicitária: quando essa diversidade é de fato representada? A comunidade negra, por exemplo, é idealizada por estereótipos que são incapazes de representar, de fato, este grupo que representa mais de 50% da população brasileira. Fato muitas vezes é ignorado nas agências publicitárias, e que precisa ser revisto com urgência.
Após a comoção nas redes sociais em decorrência da morte violenta de George Floyd, em maio de 2020, nos Estados Unidos, a discussão sobre racismo tomou proporção mundial, através de uma ação coletiva. A indústria da música protestou com um apagão nas redes sociais com a hashtag #BlackOutTuesday. No Brasil e no mundo muitas marcas seguiram a tendência em apoio ao movimento. Mas quantos negros fazem parte do quadro de funcionários dessas empresas? O que mais é feito além de um post nas mídias sociais? É preciso ir além das hashtags, e refletir e agir sobre o acesso desse grupo no mercado, em agências e anunciantes.
A publicidade, nesse sentido, tem um papel importante: promover esse grupo e inseri-lo efetivamente na produção, no desenvolvimento em todos os segmentos que permeiam o fazer publicitário, em todos os momentos, a fim de naturalizar a presença, o acesso e a verdadeira representatividade capaz de transcender os estereótipos socialmente atribuídos. Se não mudarmos a forma de como enxergamos o negro enquanto potencial consumidor, produtor e conhecedor de sua história, continuaremos repetindo erros, injustiças e isolando grupos quando o momento pede maior inclusão.
Mas é possível também afirmar que a pauta da representação da comunidade negra vem ganhando destaque quando atrelamos a esse grupo os referenciais de diversidade e potencial de consumo nas agências e nos anunciantes, mas essas vozes são realmente ecoadas? Elas chegam ao consumidor de forma eficiente, natural e convincente?
Os questionamentos são muitos e, embora as mudanças evidenciem novas atitudes, novas possibilidades de sentido e novas formas de adequação dos saberes, costumes e cultura vinculados às comunidades negras, ainda há muito a se fazer: seja na inclusão efetiva de políticas de acesso, seja no comportamento verdadeiramente solidário além das redes sociais, seja no combate aos estereótipos que nos reduzem ao samba, capoeira e virilidade.
A diversidade não deve ser tratada como pauta de oportunidade ou apenas em datas comemorativas, deve estar presente em toda a engrenagem, de maneira consistente e contínua. Só assim nosso mercado ajudará a combater o racismo.