Não é novidade que, nos últimos anos, o mundo inteiro está testemunhando uma grande mudança da economia real para a economia digital. Além do metaverso, a nova aposta das grandes marcas e das criptomoedas como foco de investimento, um novo termo que vem ganhando força na economia criativa é o NFT non-fungible-token, ou tokens não fungíveis.
De maneira resumida, o NFT é uma tecnologia baseada em blockchain que permite a criação de produtos digitais exclusivos e únicos, que podem ser uma arte, fotografia, música, áudio e multimídia, realidade virtual, moda e até videogames online.
Para fazer uma analogia com o mundo físico, imagine ter uma impressão da obra "Noite Estrelada" de Van Gogh. A imagem por si só não tem valor algum, já que milhares de pessoas podem ter o mesmo ativo, bastando ter acesso ao JPEG da obra. Já um NFT da pintura, é como possuir o original, algo como um certificado digital de autenticidade e valor. Justamente por isso, estes ativos podem ser comercializados como obras de arte, podendo alcançar valores de venda altíssimos.
O mercado de NFTs movimentou US$2 bilhões no primeiro trimestre de 2021, montante 20 vezes maior do que o observado no ano anterior. Não à toa que, grandes marcas de diversos segmentos como Nike, Coca-Cola, McDonald 's, Taco Bell, Pepsi, Clinique, Mattel e até marcas de luxo como a Gucci, já apostam no que é considerada a mais nova onda de inovação.
Mas como é possível capitalizar em cima desses ativos digitais? A resposta é simples: o grande fundamento econômico atrelado ao NFT é a raridade. Por meio dessa tecnologia, foi possível atribuir o conceito de escassez e exclusividade no ambiente online, o que antes era inimaginável. Assim, ainda que outras pessoas repliquem ou usem um ativo digital sem a sua permissão, você será o único e verdadeiro proprietário do mesmo.
Ao contrário de outros bens que podem sofrer com a depreciação ao longo dos anos, isso não acontece com o NFT. Em alguns casos, esses ativos podem valorizar ainda mais, permitindo a sua revenda por um valor maior.
NFTs na prática para marcas
Para as marcas, o uso desses tokens não fungíveis representa uma oportunidade de gerar receitas adicionais. Isso porque podem configurar uma nova forma de distribuição dos seus ativos, que pode acontecer por meio da criação de produtos digitais exclusivos ou como complemento de ofertas físicas. Grandes empresas já apostam nesse novo formato, como é o caso da Pepsi, que anunciou a sua primeira ação no universo dos NFTs com a coleção “Mic Drop Genesis NFT”.
Com o objetivo de celebrar o ano em que a Pepsi foi fundada, foram gerados 1.893 NFTs a serem adquiridos pelos fãs da marca. As artes são inspiradas nos icônicos sabores da Pepsi, disponíveis nos EUA, e cada uma das NFTs é gerada de maneira aleatória por um algoritmo, de modo que cada token se torna um ativo totalmente único e diferente.
Fundamentada no longo relacionamento da Pepsi com o mundo da música, a coleção conta com variações de um microfone bem visual, criados a partir de cerca de 50 atributos, incluindo microfones, palcos, acessórios e muito mais. O mais interessante é que as NFTs criadas foram oferecidas de graça ao público, bastando entrar em uma lista de espera para garantir o seu ativo exclusivo. Ainda assim, a coleção “Mic Drop Genesis NFT” da Pepsi, lançada em dezembro de 2021, já arrecadou mais de U $70 milhões em vendas secundárias.
Por que isso é importante? Ao entrarem no mercado de NFTs, as marcas se posicionam como inovadoras, mesmo quando o foco central do negócio ainda se mantém na venda física e na prestação de serviços no "mundo real", como é o caso da Pepsi. Tudo isso, é claro, contribui não só para o aumento do reconhecimento, mas também para criação de relacionamentos mais duradouros com o consumidor e fortalecimento da comunidade. Imagine a força de premiar os seus consumidores com ativos digitais personalizados da sua marca?
Outra que mergulhou de cabeça no universo das NFTs foi a Nike. A gigante multinacional de moda e artigos esportivos anunciou a compra de uma das maiores empresas do setor da moda em NFT, a RTFKT, com o objetivo de conectar pares de tênis físicos às suas versões digitais. Ao contrário do movimento que outras marcas fizeram, é possível adquirir um tênis ou peça de vestuário da Nike na sua versão digital e também receber uma versão física do produto.
A aquisição é mais um passo que acelera a digitalização da Nike, e isso tem grande impacto para o resto do mercado, pois indica o desejo das grandes marcas em participar dessa nova cultura. Conforme passamos mais tempo nesses universos virtuais, os consumidores passam a dar maior importância para os seus acessórios digitais, pois se tornam parte fundamental da nossa identidade. É o que acontece com os tênis e roupas, por exemplo.
Conclusão
Marcas que se conectam com essas novas tecnologias transmitem uma mensagem clara de disrupção para o mercado, e isso configura uma vantagem de posicionamento. O movimento de apostar em NFTs desde o início da tecnologia também pode ser considerado como uma tentativa de sair à frente da concorrência, no caso da criptografia assumir a frente da próxima onda de inovação na internet.
Importante lembrar que ainda estamos no início da era dos NFTs, e que esse é um mercado que possui infinitas possibilidades de aplicação, podendo ser utilizados para armazenar nosso histórico médico, carteira de habilitação e ingressos para eventos. A tendência é que a carteira digital do consumidor se torne cada vez mais povoada.
Por fim, quanto mais marcas oferecem serviços e produtos no mercado de NFTs, mais os consumidores serão forçados a entrar no mundo dos tokens, e tudo aponta que essa movimentação é um caminho sem volta.